colunista do impresso

Uma conta que não fecha

O Sistema Único de Saúde (SUS) é um "patrimônio" da sociedade brasileira. O artigo 196 da Constituição vigente coloca: "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação". O SUS tem 30 anos de idade. Quem como eu acompanhou sua trajetória e crescimento, apesar de todas as dificuldades nos processos, orgulha-se do seu desempenho, porém visualiza a necessidade urgente de se rever e fortalecer o investimento em atenção básica de saúde, setor em que mais de 80% dos problemas poderiam ser resolvidos com custo baixo em relação a outros investimentos. Certamente, o cenário dos prontos-socorros lotados, com macas pelo corredor e pessoas sentadas no chão, iria melhorar. Outro fator importante em que devemos começar a pensar foi colocado pelo Dr. Drauzio Varella em uma de suas entrevistas: "O SUS foi um grande avanço. Temos que defender o SUS antes de tudo. Mas acho que, num país com a desigualdade do Brasil, temos uma parte da população com condições econômicas bastante favoráveis que não deveria usar o SUS. Deveria deixá-lo para quem não tem outra alternativa: ou se trata pelo SUS ou não se trata. Então, não tem sentido de eu estar ocupando o lugar do outro, tenho que me entender com a iniciativa privada. Já outras pessoas defendem o fim da saúde complementar no Brasil. Acho que isso é um radicalismo incoerente, porque é jogar em cima do SUS pessoas que já são muito privilegiadas. O que temos que fazer é aprimorar o SUS".

O aprimoramento do SUS passa em entendermos que não temos dinheiro para tudo, temos de investi-lo com sabedoria - e a sabedoria é investir em atenção básica, em promoção e prevenção. É importante dizer que saúde não tem preço, mas tem custo. Por isso, uso a palavra investimento. Temos de investir na nossa saúde e isso não é só tarefa dos governos e seus gestores. Devemos perguntar como vamos investir em nossa saúde. Cuidando de si mesmo, ficando longe dos excessos, entre outras coisas, principalmente do uso contínuo de álcool e drogas, cujas consequências são devastadoras para o sistema.

Porém, não é só isso que podemos fazer para ajudar na manutenção desse patrimônio. A ausência nas consultas, exames e cirurgias chega a 40% em alguns serviços. E se você for falar sobre métodos para evitar essa situação, tenha a certeza de que as instituições têm tentado uma solução de diferentes maneiras, mas com pouco retorno, já que os índices de absenteísmo não têm as quedas esperadas frente ao esforço utilizado e os custos elevados desses esforços para mudar essa dura realidade. Acredito que as pessoas não têm noção das consequências de suas ausências, para os outros e para o sistema como um todo. Temos de entender que nada é de graça, não existe almoço grátis, alguém paga. E a ausência de um tem como consequência direta a falta daquele exame e/ou consulta para alguém. Sim, alguém doente ficou sem o atendimento que o paciente agendou e faltou. Sei das dificuldades, mas sei, e vivenciei isso, que, quando se quer, consegue-se o dinheiro da passagem, pois o brasileiro é um povo solidário, as pessoas sempre ajudam, principalmente quando o motivo é doença.

A melhora dos processos da saúde em sua grande maioria passa por um trabalho contínuo com um planejamento sério e rigoroso, sendo avaliado permanentemente frente às novas demandas. O acesso à saúde para todos num país de tantas desigualdades deve começar a ser revisto, nisso concordo com o Dr. Dráuzio Varella.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Ambulatório não é hospital Anterior

Ambulatório não é hospital

A cruzada de Sergio Moro Próximo

A cruzada de Sergio Moro

Colunistas do Impresso